Entramos hoje no ano de 2025. Na equipa do DN, saúdo todos os jornalistas enquanto esteios vitais da nossa vida democrática. Por força de muitos dos acontecimentos vivenciados nos últimos anos, 2025 pode ser decisivo na definição da futura ordem internacional, quer no plano político, quer no plano económico. E no plano interno, também haverá clarificação política.
Assim como o sistema internacional será marcado pelas opções dos Estados Unidos da América e da União Europeia sobre o futuro da Ucrânia, particularmente em zonas nevrálgicas de disputa de influência e disputa territorial, o subsistema do Médio Oriente conhecerá uma alteração de forças que exigirá da comunidade internacional a procura de uma nova legitimação ética para uma solução política de maior equilíbrio e mais duradoura.
Na Ucrânia, Donald Trump já reiterou querer um cessar-fogo imediato. Sabemos, porém, que a decisão sobre o cessar-fogo é tomada em primeiro lugar pelos contendores no terreno, Rússia e Ucrânia. A Rússia quererá garantias sobre a não entrada da Ucrânia na NATO e esta sobre a segurança das suas fronteiras. O cessar-fogo, a possibilidade do envio de uma força de interposição, cuja legitimidade, composição e liderança, terá de ser definida a par com a criação das condições para um processo de paz será sempre a melhor opção para evitar que este conflito alastre a outras fronteiras. Poderá estar em causa a estrutura do sistema internacional tal qual o conhecemos desde o fim da Guerra Fria. Se a solução para o conflito na Ucrânia não é indiferente para o conjunto da Europa, particularmente num momento em que o eixo franco-alemão se encontra especialmente debilitado, também não deixa de ser relevante para o futuro na Ásia, nomeadamente no que às esferas de influência diz respeito.
Por outro lado, a Aliança Atlântica, pela voz do seu Secretário-Geral, Mark Rutte, já veio dizer que os 2% da riqueza nacional para financiar o esforço comum de Defesa não é suficiente e que o objetivo passa a ser de 3%. Donald Trump disse ser necessário 5%. Se Portugal tiver de investir 3% do seu PIB, significará mais do dobro do que investe hoje, ou seja, cerca de 7 MM euros por ano. Se formos para os 5%, então, estaremos a falar de 11,6 MM euros. E há já quem afirme que os 3% é para cumprir num prazo de entre um ano e meio a dois anos. Se assim for, terá já reflexos na proposta de OE para 2026.
Haverá sempre que admitir que um cessar-fogo e a perspetiva de um acordo de paz possa diminuir a pressão sobre os europeus no que respeita às metas do financiamento da sua defesa comum no quadro da NATO. Porém, será sempre avisado tomar medidas atempadas para envolver as sociedades europeias num processo de consciencialização sobre os seus deveres em termos de segurança e defesa. Decisões políticas tomadas sem a consciência e o consentimento dos governados, poderá, a médio prazo, criar um contexto de deslegitimação de funções soberanas dos Estados, com impactos democráticos graves.
O Médio Oriente vai continuar a estar no centro da agenda política mundial. A queda do regime Sírio reforça as capacidades de Israel para enfraquecer o Irão e para se manter como um dos pilares da segurança regional sob a aliança com os EUA. Mas, a ONU, Washington e os aliados europeus não podem ignorar que carecem de recuperar a legitimidade ética na região, o que exige o fim imediato do uso desproporcionado e indiscriminado da força, o cessar-fogo e um acordo de paz assente no respeito pelas decisões das Nações Unidas relativas à criação do Estado palestiniano.
No plano económico, vamos assistir à intensificação da guerra comercial entre os EUA e a UE com a China, e que terá na aplicação de tarifas alfandegárias uma das suas expressões. Por outro lado, vamos conhecer os efeitos da crise na Alemanha e na França com efeitos muito nefastos em toda a economia europeia e especialmente em Portugal, dado tratar-se de dois dos nossos principais mercados, a que acrescerá o efeito “bola de neve” da crise no setor automóvel.
As eleições autárquicas e presidenciais e o orçamento do Estado para 2026 serão os temas a marcar a agenda nacional. Em termos autárquicos, os dois principais competidores vão procurar bater-se para ganhar as capitais de distrito e alcançar a maioria da ANMP e da ANAFRE. No que respeita às presidenciais, é de admitir que até ao fim do primeiro trimestre se saiba quem tem a vontade e as condições para avançar. E até ao verão vamos perceber como se esboçará o próximo Orçamento do Estado. Da viabilização do próximo orçamento conheceremos até onde irá a atual solução política executiva do País.
Que a desejada clarificação política traga a Paz, a Segurança e o Desenvolvimento. Com base na Carta das Nações Unidas e na Carta dos Direitos Humanos. Bom Ano Novo!